RESENHA – Tempos Modernos

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O filme lançado em 1936 e protagonizado por Charlie Chaplin e Paulette Goddard, naquela época ainda um casal da realidade, acompanha a vida de um operário levado à insanidade pelos movimentos repetitivos e monótonos do seu serviço em uma fábrica e de uma órfã que passa a vida roubando alimentos para sustentar as irmãs mais novas e o pai desempregado. Temas como greves operárias, repressão policial e a modernização das fábricas norteiam o filme, que ainda é um dos mais reconhecidos entre os fãs de comédia crítica no cinema.

É possível citar facilmente as características que tornam “Tempos Modernos” um favorito da crítica e do academicismo: o filme de quase uma hora e meia consegue reunir tantos temas, ao mesmo tempo parecidos e diferentes, que é quase impossível não reconhecer pelo menos uma situação capaz de ser analisada. Como muitas outras obras de Chaplin, o filme é quase inteiramente mudo, o que beneficia ainda mais o enredo, fazendo com que a invisibilidade dos trabalhadores e das mais diversas vidas prejudicadas pela exploração capitalista seja ainda mais clara, já que aqui eles nem têm voz.

“Tempos Modernos” explora também uma temática romântica muito crítica: as duas personagens se encontram e nutrem um sentimento de proteção proveniente da situação de pobreza característica de ambos, fazendo com que Chaplin continue aceitando a exploração dos serviços manuais com a esperança de conseguir comprar um lar para os dois. A temática de esperança continua durante todo o filme, quase sempre fazendo com que as personagens consigam passar por situações indesejáveis somente por acreditarem em um futuro melhor. Temáticas políticas aparecem durante toda a duração do filme, seja pelas manifestações interrompidas, pelas prisões políticas de pessoas acusadas de serem comunistas por defender questões humanitárias e trabalhistas, ou pela repressão policial, que aparece mais de uma vez, interrompendo os clamores de trabalhadores que, literalmente, só querem o básico para a sobrevivência.

O filme faz bom uso da dança, presente tanto no começo, quando Chaplin é considerado insano após se acostumar com a monotonia do emprego, quanto no final, quando Chaplin e Paulette realizam números musicais em um trabalho onde parecem ser mais reconhecidos. A música, elemento necessário em filmes mudos, é acelerada e aguda, e acompanha o ritmo acelerado do andamento do filme, sempre tentando repassar, através do trabalho de câmera e do corte das cenas, o ritmo de trabalho daqueles que lutam pela sobrevivência.

Não há dúvidas sobre o status de clássico que “Tempos Modernos” carrega há décadas. É inevitável comparar seus acontecimentos na década de 30 com o que acontece todos os dias desde então. É por isso que o filme inspirou e continuará inspirando filmes futuros sobre assuntos referentes à política e aos trabalhadores: um filme mudo ainda consegue trazer à tona a linguagem mais universal possível, a da justiça.

Escrito por Maria Helena Denck.

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